segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Na praça


O vento era forte, e as folhas que se aconchegavam no chão rodopiavam para cima acompanhando o sopro do vento.
Minha prima caminhava ao meu lado, uma mão segurando a coleira da cadela e a na outra o polegar e o dedo indicador seguravam delicadamente uma florzinha azul murcha.
O clima era calmo e silencioso, a praça estava vazia. O céu estava rosa, e as nuvens pareciam mais fumaça roxa do que nuvens, elas cobriam o sol se escondendo.
Usei os minutos de silencio para observar as únicas pessoas além de nós naquele parque.
Em nossa direção vinha um homem com cara de coruja andando rápido, com uma blusa listrada, calça jeans apertada e sapatos baixos, ele vinha em nossa direção sem olhar para a gente, mas mesmo assim, parecia que iria nos atropelar.
No primeiro banco á minha direita havia um casal de jovens, eles estavam um ao lado do outro, bem perto. A menina estava com a perna por cima do colo do menino, e ela mexia os dedos rapidamente no teclado do celular, fazendo suas pulseiras douradas e prateadas balançarem e fazerem barulhinhos irritantes. O menino olhava para o nada, parecia pensar demasiado, e perecia que em brave ele iria desligar o celular da sua namorada ou tacar para bem longe.
No outro banco um morador de rua tentava se aconchegar no banco de madeira duro com um lençol velho e sujo. Rangia os dentes e resmungava algumas coisas incompreensíveis.
Ele tinha tinha uma barba rala mal feita e branca, olhos azuis meio acinzentado e ele era meio calvo.
Enquanto nos aproximávamos da fonte que se centralizava no parque, ouvi um tom alto e grosso de voz, e uma mulher quase gritando com uma voz fina e muito aguda, totalmente irritante. De longe vejo a mulher se levantando do banco parecendo revoltada, enquanto o homem que estava sentado segura em seu braço e fala algo que a faz sentar novamente ao seu lado. Quando passei por eles ouvi uma ou outra palavra que eles resmungavam, mas nada muito concreto. Fiquei pensando por bastante tempo qual seria a razão de eles estarem brigando: Traição? Ciúmes? Não sei. Mas a coisa parecia séria, acho que acabei acelerando o passo para passar mais rápido por eles.
Mais para frente, um policial se deliciava com um pacote de bolachas, ele estava encostado no bebedouro conversando com uma velinha simpática que ficou toda entusiasmada quando viu minha cadela grande, gorda e peluda passar.
Paramos no gramado grande para a cadela fazer suas necessidades e rolar um pouco. Eu sentei na grama que pinicou e umedeceu meu short. Com as mãos ao redor das pernas, concluí que há mais de bilhões de pessoas nesse mundo, e que sim, talvez sejam insignificantes para mim ou até para o mundo, assim como eu sou insignificante para o resto do mundo e para mais de bilhões de pessoas. Mas o fato é que, eu acho as pessoas muito interessantes, no jeito de pensar ou de agir, e acho que o mundo está ficando cada vez mais chato, e as pessoas são uma tela em branco, podemos esperar de tudo, acho que há um sentimento incrível em tudo que elas fazem, podemos adimirá-las e pensar sobre elas, suas historias, sua infância, suas paixões, ou suas tristezas.
O dia foi cumprido para uma vida curta, a noite chegou rápido o suficiente para sentir uma saudade.

Um comentário:

  1. Que bonita a maneira como você finalizou a sua crônica, Maria Clara!
    comprido, com O, no sentido de extensão.
    adorei o homem com cara de coruja e as suas descrições! Parabéns.
    Bom trabalho!
    Luana

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